Quero o meu algoritmo de volta!

Antes de mais, gostava de vos pedir desculpa por esta ausência na escrita. A vantagem de ter um journal pessoal é poder escrever o que quero e quando quero. Hoje escrevo-vos, porque algo me tem tirado a energia e alterado o meu algoritmo!

Durante a pandemia rapidamente percebi, que algumas contas que seguia no instagram, usaram este enfermo para crescer de forma vertiginosa e pouco verdadeira. Comecei a ficar um pouco ansiosa com a quantidade de lives, posts virais, partilhas e assuntos polémicos que suscitam o click. 

Esta vontade descontrolada de algumas contas publicarem overdoses de conteúdo apenas com a intenção de viralizar ou crescer em número de followers afastou-me.

Tudo o que menos desejo é ficar dependente do algoritmo, no entanto, após visualizar o documentário “O dilema das redes sociais” disponível na NETFLIX, percebi que já estou / estamos reféns. 

Este assunto não é novo por aqui, o ano passado já tinha escrito sobre como o “histórico” condiciona as nossas ações e de como a nossa liberdade já nos foi tirada.

No entanto durante a pandemia o meu algoritmo mudou de forma mais evidente. Quando descobri que estava grávida, inevitavelmente a minha pesquisa online mudou.

O instagram e os anúncios da google estão-me a condicionar severamente, anulando-me como mulher! Agora só me aparecem chupetas, carrinhos, roupinhas… PUFFF!

Mas o mais assustador, é o facto “dele” saber em que fase da gestação estou, influenciando ainda mais a minha pesquisa. Tudo isto, porque as nossas ações inconscientes, dizem mais sobre nós do que as conscientes. Tudo o que eu guardo, digo, partilho, faço like diz mais sobre a minha “persona” do que as ações intencionais.

Na verdade vivemos numa sociedade altamente manipulada, cheia de modelo preditivos (uma função matemática que, quando aplicada a uma massa de dados, é capaz de identificar padrões e oferecer uma previsão do que pode ocorrer). Não é por acaso que a Target, “descobriu” que a sua cliente estava grávida, antes dela mesma saber. Porque os seus hábitos de consumo já traçavam um perfil, que indicava o seu estado.

O mais assustador, é saber que as conversas que tenho em privado no gabinete da minha médica, estão a ser escutadas, não encontraria outra explicação, para a minha aplicação de gravidez sugerir artigos sobre a temática discutida 1 hora antes!!!

O mesmo acontece com o nosso tipo de pesquisa no Google, eu posso pesquisar o mesma temática no Porto ou em Lisboa e o conteúdo sugerido pelo “tio google“ será diferente, mas podemos ir mais além. Duas pessoas lado a lado poderão pesquisar a mesma temática no google e irão receber informações diferentes, porque o histórico da sua pesquisa irá automaticamente condicionar a informação apresentada, tudo de acordo com o seu perfil. 

Já escrevi sobre o futuro das profissões no artigo Future Skills, e efetivamente há profissões que nem nos ocorrem como essenciais. No documentário da Netflix o que mais me surpreendeu, foi a profissão de “Design Ético”. Se estamos dependentes das apps e da tecnologia, a forma como recebemos a informação, a forma como a informação está desenhada tem de ser pensada de forma ética. Na verdade, se usamos as redes sociais de forma gratuita, “nós somos o produto”, pois vendemos o tempo de gastamos nelas.

A nossa atenção é o produto, e por isso somos impactados com informação que muda, condiciona e manipula o que fazemos, e a forma como pensamos. Na verdade está a mudar quem somos como pessoas. O documentário revela que a informação que nos chega é tão manipulada, ao ponto de tudo ser pensado para nos manter conectados.

Táticas para nos manter conectados de forma viciada: 

  • O botão de alerta

  • Indicar que alguém está a escrever

  • O email a informar que alguém atualizou a sua informação

  • O feed infinito

  • Videos recomendados

Enfim, está tudo a ser pensado para ficarmos viciados. Lembram-se do artigo: A internet das coisas? (not)? A informação que recebemos, como é baseada no nosso histórico, não estamos a ter acesso a outros pontos de vista que nos ajudam a tirar outro tipo de ilações.

O algoritmo está pensado para encontrar pessoas com o mesmo perfil e pegar em “agentes da mudança” que influenciam os nossos interesses. Nós somos o produto e este modelo de “extração de atenção” é puramente manipulação. 

Ao falar com o Luis, ele acredita que nem sempre o algoritmo funciona. Acredito, porque no meu Spotify ouço Chet Baker, mas ele recomenda-me Tony Carreira. Neste sentido o Luis referiu que há uma discussão entre a máquina, os modelos preditivos e a personalização. A verdade é que a Netflix também me recomenda coisas estranhas, que nem sempre fazem sentido! Segundo a Netflix, “o modelo de negócio é de um serviço de subscrição que oferece recomendações personalizadas, para ajudar os clientes a encontrar os programas e filmes que lhes interessam. Para tal, criaram um sistema de recomendações complexo”.

O título da série e a imagem é feita com base em vários fatores, incluindo:

  • as interações com o serviço (como o histórico de visualização e as classificações que atribui aos títulos),

  • outros membros do nosso serviço com gostos e preferências semelhantes,

  • as informações relativas aos títulos, como género, categorias, atores, data de lançamento, etc.

Ou seja, se eu gostar de ver séries violentas, provavelmente a imagem que me irá aparecer de uma série será mais violenta, do que de alguém que gosta de séries românticas.

Para além de ficar registado o que vimos na Netflix, a personalização vai mais a além, melhorando as recomendações que nos fazem, por isso consideram:

  • a hora a que vimos,

  • os dispositivos em que vemos a Netflix

  • durante quanto tempo vemos.

O algoritmo inteligente ou até personalizado na verdade tenta normalizar tudo. Baseiam-se na ideia máxima de eficiência. Onde fica a ideia de erro? Onde fica a ideia da espontaneidade?

Não podemos pensar no futuro como algo distante, mas sim como algo que já nos está afetar agora. Preocupa-me saber que os nossos filhos já vão nascer nesta esfera on-line em que a comunicação é puramente manipulação, onde confundimos realidade com ficção. Condicionados por um software, onde fica a interação humana? o espirito critico?

Supostamente a internet veio democratizar o acesso à informação, mas com tanto afunilamento a internet deixou de ser democrática. Estaremos presos a uma liberdade “simulada”? Estará o nosso histórico a condicionar novas possibilidades de escolha e até o desenvolvimento humano? É fundamental certificarmo-nos que recebemos / procuramos informação diferente, para ativarmos o espirito crítico e tirarmos diferentes pontos de vista sobre os mesmos assuntos. 

Saudade de vos escrever :) 

Joana 

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