Os Cliclos da Sustentabilidade
A sustentabilidade não é verde, não é orgânica e o não é craft! A verdade é que o mercado impôs-nos uma cor, palavras e texturas para sermos levados a consumir de forma mais “leve” e de mente tranquila (o chamado greenwashing!). Temos sido levados para uma ideia superficial do que é a sustentabilidade e por isso, decidimos promover uma 2ª edição do Meet the Maker em torno do tema.
Uma das ideias centrais do Meet era mostrar que a sustentabilidade é muito mais abrangente do que aquilo que as pessoas pensam e toca inúmeras áreas. Lembram-se dos 4 Ps? Pois bem, a sustentabilidade na moda tem sido mais preponderante porque efetivamente é uma das indústrias mais poluentes, sendo uma Trend Tip, vou-vos dar a conhecer as 3 ideias que me marcaram mais no Meet The Maker e ainda esclarecer os mitos que confundem as nossas mentes, vejamos:
1 — A Sustentabilidade não se resumo à matéria prima:
“Limitar a visão da sustentabilidade à matéria primeira é muito redutor” afirma Ana Silva da Tintex Textiles. Efetivamente a sustentabilidade é muito mais abrangente do que a matéria prima. O mercado tem vários mitos, sendo um deles que o algodão orgânico é mais sustentável que o poliéster reciclado (mito 1). A verdade, é que para além de não existir plantação de algodão orgânico suficiente para o consumo mundial atual da moda, a forma como é recolhido exige um consumo de petróleo excessivo e a sua prática acaba por polir mais do que o poliéster reciclado.
Quando a pergunta é: “o que é mais sustentável?“ Temos sempre de ter em conta a globalidade do impacto, considerando os recursos naturais, as pessoas envolvidas, o transporte usado e não apenas a matéria prima (mito 2).
Enquanto consumidores finais, não nos deixemos enganar pelo look da etiqueta, devemos analisar o seu conteúdo, o “Made in”, e o comportamento da marca. Se fores criador, analisa todas as certificações do teu fornecedor e faz uma visita à fábrica, de forma a conheceres os seus processos.
Desmistificando o mito 3, pode ser sustentável produzir em Portugal ou na Índia, desde que saibas o impacto real de todo o processo.
2 — A emoção da sustentabilidade
“Há consumo que é totalmente racional. Nós conseguimos mudar a alimentação porque percebemos que nos faz mal e vemos as alterações no nosso corpo. A mesma coisa com o plástico de uso único. Nós vemos o impacto que tem no ambiente. Vemos as garrafas de plástico em todo o lado. Conseguimos ser racionais e recusar o plástico. Mas com a moda Não!. O consumo é totalmente emocional.” Ana Costa BaseVille.
Não compramos sustentabilidade (ainda), compramos peças bonitas e se forem sustentáveis é um upgrade positivo. Por isso, o design da peça e a comunicação poderão ser bons aliados em todo o processo. O produto em si e a forma como o “entregamos” ao mercado tem de ser especial. Esse é o verdadeiro desafio para as marcas sustentáveis! Mas atenção, comunica a verdade e de forma transparente, não induzas o cliente em erro. A titulo de exemplo, a Stella MacCartney (uma referência mundial nesta temática) em 2012 revelou que a sua empresa era apenas 20% sustentável, hoje está mais próxima dos 50%, mas há empresas que se dizem 100% 🤔. Estranho não? Não te deixes enganar pelo greewashing, claramente há um longo caminho pela frente, lê o meu artigo sobre “como vender sustentabilidade” tem inúmeras dicas. O papel de uma agência de comunicação pode fazer a diferença e a verdade é que a construção de uma imagem disruptiva, ou a associação a uma figura pública pode ser mobilizador.
3 — Os Agentes da Mudança
“Temos a responsabilidade de pensar, vou fazer alguma coisa! Todos temos a responsabilidade de encontrar uma solução para melhorar." Kaleigh Tirone Nunes Catalyst Future Fashion.
Provavelmente um dos discursos que mais me inspirou foi o da Kaleigh, pois passamos sempre o problema da sustentabilidade para as organizações, para o governo e a verdade é que nós somos os “agentes” da mudança. Na identificação de algo menos bom, temos o dever de intervir. Há um potencial de novos negócios neste sector enorme e cada um de nós pode e deve fazer alguma coisa.
Não desvalorizando a importância dos 4 Ps (Produto, Planeta, Pessoas, Progresso), gostava de vos falar dos 3 ciclos de vida do (P)roduto na Sustentabilidade:
1º Ciclo de vida:
Criar produtos mais Intemporais, de qualidade superior, promovendo a longevidade. Um dos maiores impactos da sustentabilidade está na forma como cuidamos da peça em casa (mito 4).
2º Ciclo de vida:
RECOLHER, este é uma das partes do processo mais importante. Nós “consumidores” temos de ter a preocupação de devolver a peça no fim do ciclo de vida, à marca ou no ponto certo, pois é uma matéria prima valiosa. A BaseVille introduziu no seu processo essa premissa.
REPARAR, voltemos a costureira ou ao sapateiro!
REUTILIZAR, seja para seu propósito original ou para cumprir uma função diferente, vejam o exemplo dos sacos da Patagonia com os Simple Pouch, que eram antigos casacos impermeáveis.
ALUGAR, lembram-se de vos falar da Rent The Runway? Agora as marcas também alugam, vejamos o caso da By Malene Birger com o Rent the Look.
3º Ciclo de vida:
TRANSFORMAR, (o chamado upcycle) após a entrega de matéria já usada, podemos dar uma nova vida à peça! Dica importante não tiras as etiquetas de composição. (mito 5).
RECICLAR, converter o desperdício em materiais ou produtos de potencial utilidade.
Não será este artigo também um #fashionresolution?
Obrigada Ana(s) e Kaleigh por terem aceitado o desafio e serem pessoas tão inspiradoras. Poderão saber tudo sobre a 2ª edição do Meet The Maker aqui.
Joana