O fim da propriedade!

A palavra consumidor deixou de fazer sentido. Agora somos utilizadores! Estou prestes a lançar a primeira Edição do Lab “Imersão à Nova Moda” e seria expectável que o laboratório fosse sobre moda, mas não. É sobre a nova Era, numa nova Economia, para um novo consumidor. Porque fazer moda é observar o Mundo. Vamos falar sobre o fim da propriedade?

Tudo começou com: “Preciso de comprar um carro novo.” A ideia inicial seria simples, até que comecei analisar e percebi que pago para ter o meu carro estacionado 8 horas num parque. Pago pelo selo, pago pelo seguro, pago pela gasolina... pago tudo!

Fará sentido investir num carro para estar parado 8 horas por dia? E se eu pudesse pagar só quando o estou a usar? Na verdade faria mais sentido pagar um leasing ou um car sharing tipo bla bla.

Faz sentido ter em casa um carro para cada membro da família? Faz sentido comprar um filme para ver uma única vez? Faz sentido comprar um vestido para usar em apenas uma festa? Não será tudo isto um desperdício de dinheiro e de recursos para uma utilidade tão reduzida?

Estas questões mexem com a nossa consciência e com o nosso bolso, talvez por isso hoje fale-se tanto do pós-capitalismo, da economia consciente ou da economia afetiva. Não sei qual é a próxima economia, mas a verdade é que ela vai mudar e muito. De todas, a economia da partilha é a que tem despertado mais a minha atenção. A Uber, o Airbnb, o Netflix, a Rent The Runway, o Spotify, vieram mudar tudo isto. Já não somos donos de nada, pagamos para ter acesso.

A economia da partilha está a ganhar escala. Vejamos o caso do Rent The Look da By Malene Birger , o Repeat da Ganni, os números mostram que os jovens preferem ter acesso a uma subscrição de uma grande marca pelo preço da Zara do que comprar Zara. Mas este fenómeno pode vir em outra direção, como é o caso da Circos. Uma plataforma de subscrição de vestuário para criança, que como sabemos está em crescimento constante! O cliente subscreve uma avença para ter acesso a um número de produtos todos os meses. 3, 6 ou 10 peças, várias silhuetas, cores, que podem ser trocadas a qualquer momento.

A verdade é que a possibilidade de subscrever um “guarda roupa” pode-nos dar a mesma sensação que temos com a Netflix ou o Spotify, é infinito e por apenas 15€? É inacreditável!

O futuro é por isso, serviço, serviço, serviço!!! E claramente o grande desafio está na logística. “A Rent The Runway é a maior lavandaria dos USA.” disse a Ana Roncha. E se a interação é cada vez mais digital, já pensaram que para além de “avaliar” o serviço da marca, nós clientes também seremos avaliados pelo uso?

Já tinha falado nos artigos de sustentabilidade sobre a revenda (re-use) e o aluguer (rent) e claramente eles estão a tornar os negócios mais atraentes, podendo baixar drasticamente a produção dos mesmos e o consumo! O sector de luxo sempre foi muito forte na revenda e no aluguer. Se olharmos para os produto com uso infinito, talvez estejamos perante um investimento. A Browns já tem o serviço de Armarium e a Vivrelle, já aluga Chanel, Hérmes, Van Cleef & Arpels, por uma taxa mensal de 99€ a 279€ mensais. Mas este movimento está a chegar a outro tipo de marcas. Como já tinha referido no artigo “a morte da moda”, a Patagonia e a Stella MacCartney já estão a criar programas de recompensa pela devolução de roupas antigas ou pelo uso de peças em segunda mão.

É certo que o fim da propriedade dá-nos mais opções de escolha e até ajuda-nos a poupar dinheiro, mas a moda é emocional. A moda é conquista. A moda é a construção de um sonho. Estará este movimento a criar um problema, chamado “falta de identidade”?

Na construção de um universo de marca, a posse faz reflectir a nossa identidade. Caso não seja meu, parece que vamos SER em part-time, porque o TER será temporário e talvez descartável. No meu entender a aquisição de um objeto permite-nos perpetuar o colecionar de memórias. Mas e se eu deixo de ter posse? passo a ter memórias efémeras? perderei o sonho da conquista? Estaremos perante a morte dos sonhos?

Joana

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