Descartar roupa pode ser circular?

“Na verdade, nós somos caros!”, esta frase tem andado na minha cabeça nos últimos tempos. E ela surgiu a propósito da subida das matérias-primas e do lobo chamado fast-fashion.

Sempre que penso em moda, penso num monstro difícil de domar. Lembram-se do Artigo: “A Zara como a Solução do mundo?” É isso! acredito piamente que só o poder do fast-fashion pode mudar o consumo. Por isso tenho-me questionado, e se a ZARA for mesmo a solução? E se descartar roupa em vez de criar um problema, gerar uma solução?

Apesar de as matérias primas terem subido, o consumidor final não está a pagar mais. Então quem paga a fatura? O produtor! E qual é a consequência? As produções de moda estão todas a sair de Portugal e a migrar para outros países. DAMN! Não.. nós não somos caros, porque Made in Portugal significa “responsabilidade”.

Produzir em Portugal significa assegurar ao consumidor final que as suas peças são produzidas num país com forte legislação laboral e sustentabilidade social:

  • Dando diferentes garantias aos trabalhadores como: proteção social, garantia de direitos, acesso a cuidados de saúde e inspeções de diferentes entidades.

Produzir em Portugal significa que a sustentabilidade ambiental.

  • Para uma empresa funcionar legalmente, tem de passar obrigatoriamente por um licenciamento ambiental protegendo o meio à sua volta.

Produzir em Portugal significa sustentabilidade económica, embora as margens praticadas sejam muitas vezes esmagadas pelas marcas.

  • O selo “Made In Portugal” significa qualidade, o que significa que o produto de valor acrescentado terá de ser pago por um valor mais justo, embora muitas vezes o fast-fashion procure a qualidade “percecionada” pelo cliente. “Não tem de ser caro, tem de parecer”, aí a confeção escolhe matéria-prima dita “menor” e aposta na confeção de alto valor, mantendo o valor mais competitivo.

  • Comprar Made In Portugal poderá trazer mais segurança, mas um dos maiores problemas do fast fashion é o consumo veloz. Estando o modelo de negócio da Zara assente na lógica do consumo e descarte rápido, então o que significa o aclamado “Join Life”?

Segundo os critérios da zara, o programa “Join Life” significa assumir o compromisso de trabalhar para reduzir o impacto e integrar a sustentabilidade nas tomadas de decisão, incluindo toda a cadeia de valor, desde:

  • o design do produto,

  • a escolha de materiais,

  • os processos,

  • a logística,

  • a gestão em armazém

  • o design e gestão das lojas

“Join Life” na prática significa critérios rígidos e controlo apertado junto de toda a cadeia de fornecimento. A zara faz auditorias constantes aos fornecedores garantindo que cumprem com a sua “estratégia sustentável” assente numa visão holística que incorpora desafios centrados nas pessoas e no planeta. A económica já percebemos que se mantém pela produção em escala e demanda rápida.

Surge aí a questão: E se o consumo descartável for Circular??? 🧐

Se o fast fashion não mudar e continuar a entregar produtos de 2 em 2 semanas, de suposta “curta duração”, como t-shirts, saias, vestidos, casacos… será que este descarte pode ser circular?

  • A 1ª ideia é que posso vender em segunda mão.

  • A 2ª é que em fim de vida posso reciclar e transformar novamente em fio.

  • A 3ª é que podemos produzir com melhores materiais de forma a não agredir o meio ambiente, olhando para a circularidade e benefícios ambientais.

Eu gosto de olhar a moda como solução. E se uma camisola em fim de vida fosse transformada em adubo??? Nas aulas da maratona da sustentabilidade explico como.

Parte-se do princípio que a partir do momento em que falamos de descarte, deixa de ser circular. Pois supostamente uma ideia inviabiliza a outra. Mas, e se mudarmos o mindset?

Produtos de consumo rápido podem efetivamente ser circulares e até “salvar” o planeta.

E se cada peça descartável da zara fosse uma árvore? Em vez de escassez, estaríamos a falar em abundância. :)

Se o foco for combater o desperdício e o consumo excessivo, a Zara pode olhar para o “resíduo” como “recurso”. Para isso, a marca que tem de ter como principal característica o cuidado com os materiais e o design, de modo a que esses produtos possam ser descartados de forma benéfica para o meio ambiente. Assim, as marcas fast-fashion necessitam de apostar em materiais e soluções alternativas para os materiais de uso único (os descartáveis) que geram um enorme volume de desperdício e resíduos, como fechos, botões....

As soluções devem passar por produtos feitos de materiais biológicos, que podem retornar de forma segura à natureza. Por ex: Posso produzir uma peça em algodão orgânico, fazer tingimento natural, usar linhas e acessórios biodegradáveis e descartar em fim de vida, sem contaminar a terra.

Estará a zara sedenta de novas soluções?

Recentemente, a Zara criou um vestido a partir de CO2. A retalhista espanhola, em parceria com a LanzaTech, criou uma coleção cápsula de vestidos feitos a partir da fermentação com bactérias de carbono emitido por uma fábrica chinesa de aço. Interessante, não?

E se a roupa purificar o ar?

Durante anos, olhámos a Zara com admiração. Portugal ganhou e ainda ganha com a sua existência e crescimento. E acredito que Portugal poderá entrar como solução.

O vestuário é uma das maiores invenções do mundo! Olhemos para ele não como um problema, mas sim como A solução!

Joana

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