A Zara como solução do Mundo.

Entramos na Nova Era cheios de contradições. Enquanto parte da Austrália arde, a outra parte festeja o ano novo. Quão contraditório poderá ser isto?

Vi vários posts a dizer, a “culpa somos nós”. Se nos últimos meses apontei o dedo às Zara(s), agora penso que talvez seja a Zara a solução do Mundo.

Ontem descobri que Gandhi era um prosumer. Já ouviram falar? Um prosumer é uma pessoa que produz o que consome. Há quem produza a sua energia, há quem produza os seus alimentos. Todos eles são prossumers.

Com o problema do consumo excessivo, há uns meses achei que o futuro passaria por sermos prossumers das nossas próprias roupas, através da impressão 3D. Com a evolução do design 3D, a autonomia está a aumentar junto dos leigos, e assim a longo prazo conseguiremos produzir a partir de casa o que queremos. Fácil! Da mesma forma, que é fácil imprimir, é fácil destruir e voltamos ao mesmo ciclo. Destruir, criar, destruir, criar. Mas a ideia de destruir é uma ideia de puro descarte. Egoísta, efémera, sem memória. Lembram-se do último artigo sobre o fim da memória ? Se não há memória é porque tem um fim. É o maior gesto de inutilidade humana.

Questiono-me, no final de tudo tudo tudo, para que serve a nossa vida? Para sermos felizes. Tudo o que fazemos, comemos, consumimos, é porque procuramos felicidade. Mas se por um lado, queremos através das redes sociais perpetuar memórias, consumimos objetos para descartar em fim de vida, ou seja sem memória. A memória exige tempo. Então o Fast Fashion não entra nesta conjugação. O maior valor dos dias de hoje é o tempo.

Vejo por isso que não vamos resolver o problema da Austrália com doações. Vamos resolver os problemas promovendo a memória e por consequência a vida humana. Temos por isso, de olhar para a moda como um remédio, que dá saúde, que dá vida, que confere energia, que nos liga entre seres humanos.

Questiono-me: Como é que os grandes líderes de moda dormem à noite, sabendo que parte da sua produção é privada do sono, não tem dinheiro para comer ou para tomar um banho?

Pergunto-vos, o que adianta as marcas comprarem algodão orgânico (sem pesticidas), se tingem as suas peças com químicos? A Solução não é o algodão orgânico, não sim as fibras locais e o tingimento orgânico. Já conhecem o projeto Picasso da Tintex?

O que adianta o jornal expresso comunicar packaging de papel, se após ir ao quiosque, aquele saco é lixo?

O que adianta o Continente promover o fim do plástico, se eu não consigo comprar produção nacional?

Não está errado comprar nos saldos. O que está errado, é comprar sem precisar.

Não toleramos a violência junto das crianças, mas compramos roupa feita por crianças. Sabiam que nos mercados nórdicos, se a etiqueta disser “Made in Turquia” eles não compram? A Turquia priva as mulheres da sua liberdade, então eles recusam-se a compactuar com este mercado.

A moda é política. Podemo-nos manifestar na forma como consumimos, mas estamos limitados às decisões das grandes potências.

Quebrar com o mercado atual, é altamente complexo. Hoje quem está a fazer a diferença, são pessoas que viram ao vivo o que está ilustrado no documentário True Cost.

Infelizmente a urgência climática, já não vai a tempo de pequenos gestos individuais. Porque o problema não é de uma ou outra fábrica, é um problema sistémico.

A moda criou um monstro, por isso a reflexão que proponho aqui é: “E Se a moda fosse a solução?”.

Julgo que nos esquecemos porque motivo fazemos Moda. Devemos olhar para a moda, como uma ferramenta de transformação. Nesta complexidade gostaria de ver a Zara (entenda-se o fast fashion no geral) a ser portador dessa solução sistémica. Porque eles têm esse poder. Já imaginaram se a Zara fizesse uma mudança para o tingimento natural? Tudo tem de ser repensado (sugiro lerem os artigos todos sobre sustentabilidade, Desde a plantação, à atribuição de preço, ao volume… tudo!

Não é um processo fácil, porqe o capitalismo, trouxe-nos um consumo para lá do razoável e habituámo-nos a comprar barato.

Sermos prossumers iria trazer algo valioso. O valor das coisas, dos processos e iria restaurar a nossa memória.

É claro que estou preocupada com as cheias de Veneza e os incêndios da Austrália, mas o Alentejo também não tem água, e o Douro está alagado. Cabe a cada um de nós, resolver o problema mais próximo da sua realidade.

Sinto-me inúmeras vezes à toa, por isso as grandes potencias da mesma forma que criaram estragos, são elas que têm de repor a ordem. Se a Zara passar a ser apenas Fashion, retirando o Fast, ela estará a promover a vida. Irá ter de pagar mais, logo irá produzir menos. Ao produzir melhor, terá de fazer um produto melhor e por sua vez contribuir melhor financeiramente a todos os envolvidos. A Zara tem mecanismos para promover a saúde, a educação e proteção do trabalho. A Zara tem tanto poder como um Facebook. Eles condicionam o nosso consumo. O que tiraram, tem de dar de volta.

Não quero ter vergonha de usar Zara, mas sim orgulho. Eu quero dizer: “esta roupa pagou um salário justo a uma mulher que colocou comida na mesa para os seus filhos, que lhes deu uma educação e higiene, possibilitando maior dignidade, como ser humano.”

A sustentabilidade começa na economia, justiça social e ambiental. Então temos de olhar para o vestuário como um remédio. Sim! Esta roupa que problema resolveu hoje? 

Brinco muitas vezes que a maior sustentabilidade seria andarmos nus, mas vocês sabem que é mentira. Não conseguiríamos viver sem roupa, primeiro porque ela foi criada para nos proteger do frio e do calor, segundo, porque ela dá-nos individualidade. Não nos podemos esquecer quem somos, como individuos. A moda é empoderamento.

A solução passará por olharmos para o vestuário como solução. Como diz o Jackson. “A moda não é sobre roupas mas sobre pessoas”.

Welcome 2020!

Joana

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