Meta, Gaming e Cripto

Nuno Markl disse que “o conceito de metaverso é engraçado…. mas a ideia de nos passearmos por um metaverso onde vamos a espetáculos, a lojas e a jogos, cruzamo-nos com estranhos… como se nos passeássemos no mundo real, é uma fantasia”. 

Não consigo concordar, porque, desde o Second Life, existiram muitos avanços tecnológicos e mudanças sociais. Na verdade, fica muitas vezes difícil de distinguir o mundo real do virtual. Quantas horas passamos no instagram com estranhos? Quantas horas passamos nas salas virtuais do Zoom? 

Não podemos olhar para o metaverso sem considerar a evolução das interações sociais e as transações comerciais. A venda on-line disparou com a pandemia. 

Se a esta camada acrescentarmos a tecnologia de blockchain e as criptomoedas (a única “moeda” possível para transacionar nestas novas realidades), vemos que o futuro é Agora. 

Deixo-vos a minha reflexão (o melhor que sei e talvez com alguns erros) sobre meta, Cripto, Blockchain, Tokens e NFTs.

Mas afinal o que é o Metaverso? 

O metaverso não é nada mais nada menos que uma experiência imersiva onde existe uma representação de uma realidade alternativa, usando a realidade virtual e ou a realidade aumentada (uso de óculos). Digamos que é um Second Life mais real. Neste momento um dos metaversos mais usados é o The SandBox, onde podes jogar e construir coisas. 

Eu sei que para as marcas que ainda se estão a adaptar ao e-commerce isto pode parecer surreal, mas para as marcas / pessoas nativas digitais isto é só uma evolução natural. 

Já tinha escrito um artigo sobre a “A imaterialidade da moda” em maio de 2020, lembras-te? Mas porque motivo devemos olhar para tudo isto com mais atenção? 

O metaverso ameaçava explodir já há algum tempo, mas a aceleração digital impulsionada pela pandemia fez tirá-lo da toca. Porém, existiram outros acontecimentos, vejamos:

  • A indústria do gaming ultrapassa agora os 170 bilhões de dólares. Em abril de 2021, o Roblox atingiu os 202 milhões de usuários ativos por mês (um aumento de 146 milhões relativamente ao ano anterior). Já o Fortnite gerou uma receita de 5,1 bilhões de dólares em 2020.

  • Em abril de 2021, a China tornou-se na primeira potência a criar a sua própria criptomoeda.

  • Em outubro de 2021, Mark Zuckerberg, o dono do maior país do mundo, mudou o nome do Facebook para Meta. 

Estamos na passagem da propriedade física para a propriedade (meramente) digital. Esta fronteira pode assustar, mas, ao contrário do que muitos pensam, ela já existe (já pagamos “espaço” na cloud para alojar fotografias, já pagamos a “rua” (domínio) do nosso site, já compramos “filtros” para o instagram. Não será isto já uma aquisição digital? 

Este Natal muitos miúdos pediram as sapatilhas Vans da Roblox, por isso, não podemos falar em metaverso, sem falar em gaming, criptomoedas e NFTs e porquê? 

Deixo-vos a minha reflexão!

Comecei o ano de 2021 dentro de um universo paralelo (a ZEPETO), para além de ter um avatar, aqui sou desafiada a jogar e a interagir com outros indivíduos com um único objetivo, ganhar “moedas” para vestir o meu avatar. Comprei o meu primeiro produto meramente digital em 2021, umas sapatilhas da Gucci. 

Tal como na Zepeto, o Fortnite é um jogo gratuito, mas tem uma variedade de produtos disponíveis para compra e grande parte do acesso a essas atualizações de cosmética para as personagens dos jogadores é lançada em edições limitadas. É aí que entram os NFTs - que provam autenticidade e propriedade e acabam por gerar escassez - uma das técnicas mais usadas no marketing que permite aumentar o valor dos ativos.

A indústria dos jogos atrai mais de três mil milhões de jogadores globalmente. Se as marcas olham para o instagram como um potencial de engagement e até canal de vendas, porque motivo irão ignorar a área do gaming (jogos) ou de ambientes metaverso? 

Que relação têm estes mundos Virtuais com as Criptomoedas?

TUDO!

Existem cada vez mais transações em mundos virtuais e o gaming é uma experiência de realidade virtual ou aumentada, por isso, é metaverso. E o negócio das criptomoedas vai andar entre gaming e metaverso. Tal como valorizamos um produto (real) de edição limitada, que pode ser exibido numa festa, vamos também comprar um produto digital da NIKE (por exemplo) de que só existem 5 exemplares no mundo, para usar na discoteca do metaverso. E esta pessoa vai-se sentir igualmente exclusiva.

Investir em produtos digitais ou em arte via NFT é igual a um investimento real. Apesar de o produto não ser palpável, se ele for importante para ti, passa a ter valor no mercado. 

Podemos olhar para as criptomoedas de duas formas: 

  1. Como investimento (compra e venda), 

  2. Ou como forma de “acesso” a estes ambientes virtuais.

Há jogos e ambientes metaverso cujo acesso só é permitido se tiveres adquirido a sua “moeda” própria. Por exemplo, no The Sandbox podes comprar e ganhar dinheiro com as tuas experiências virtuais. 

Uma das razões pela qual este espaço do gaming é/está a ficar tão popular, é também o facto de poderem usar o PTE / Play To Earn. Onde qualquer pessoa pode ganhar dinheiro (em forma de tokens) apenas por jogar. Daí uma das profissões de futuro ser “gamer”. :P

Outro exemplo em crescimento é o jogo Axie Infinity, que mistura criptomoedas e o conceito dos Pokémons. Os jogadores podem criam criaturas, lutar e trocar os bichos, em formato de NFT.

Explicando por outras palavras, é o equivalente a ires a uma Feira Medieval e, para fazeres transações no seu interior, tens de ter “moedas de madeira”, os euros não têm qualquer valor. Vamos pensar que as “moedas de madeiras” são os chamados “Tokens” e o espaço onde a feira decorre é um metaverso construído numa Blockchain.

Segundo António Vilaça, autor do Livro “Bitcoin”, “a blockchain é um conceito bastante simples, mas cuja implementação é complexa. Na realidade é apenas uma base de dados. No entanto, a implementação de uma blockchain implica algumas regras como a descentralização e a possibilidade de abertura à participação. Blockchains privadas não têm qualquer interesse nem utilidade, visto que não são mais do que uma base de dados centralizada. Como seria uma folha de Excel num computador pessoal. No entanto, uma blockchain descentralizada, pelo facto de ser validada e conformada por várias entidades em conjunto, permite que se crie um sistema de “verdade” em conjunto. Conseguindo assim uma base de dados com confiança.”

Noutro dia escutava alguém dizer: “No The SandBox ainda existe terra à venda” e “O preço da terra está a 10.000 euros”. Como assim? O que significa isto?

Segundo o António V., significa que estes espaços virtuais estão a ser habitados por “gamers profissionais”, que estão a investir no seu próprio terreno e nos seus bens digitais. Acabando por ganhar mais dinheiro no virtual do que na dimensão real. 

No The Sandbox a terra é escassa e neste espaço meta está incorporado uma economia complexa baseada em criptomoedas. E muitas vezes, apesar de os jogos serem gratuitos, tudo o que alcanças ou adquires pode ser convertido em criptomoedas. A moeda (token) é a SAND.  

Os jogos tornam-se uma extensão do mundo real e com a pandemia a participação foi acelerada, tornando-se o principal alvo das marcas de moda.

Em dezembro aconteceu o primeiro casamento metaverso, provando que este ambiente virtual está a aprofundar e a dar novos significados às conexões e às relações. Segundo o novo estudo de Wunderman Thompson, 83% dos consumidores globais acreditam que a tecnologia une as pessoas. Seguindo a tendência, o Tinder está a desenvolver um ecossistema de namoro imersivo para ajudar os solteiros a encontrarem-se nesta nova realidade.

Desta forma dá para perceber, que, ao contrário do que Nuno Markl dizia, estes mundos paralelos estão a transformar a forma como nos relacionamos, trabalhamos, descansamos e brincamos, desde a forma como criamos cultura ou dirigimos mercados financeiros e até a forma como olhamos e vivenciamos a sociedade e o mundo.

Fiz um inquérito no instagram e a maioria dos seguidores considera estranha a aquisição de roupa digital! Sério? Mas não estranhamos os filtros no instagram!!! Tudo isto é uma aquisição e usabilidade meramente digital, certo'?

Vejamos alguns acontecimentos que devemos olhar com atenção:  

Com o metaverso, esta experiência imersiva, permite-nos construir e viver um mundo paralelo. E porque motivo é tão atrativo? porque (quem habita esses mundos) diz-se que está a acontecer a “construção” de um mundo dito “mais perfeito”. 

Diz-se que, se incorporarmos a tudo isto os óculos de realidade aumentada, temos uma sensação WOW! E Apesar de nunca ter experimentado isto, lembra-me a série do Black Mirror - Striking Vipers, onde dois colegas de faculdade se encontram no seu videojogo favorito de realidade virtual ficando viciados nesta nova dimensão. Os seus avatares acabam por se apaixonar, trazendo uma nova camada de discussão, sobre as novas áreas sociais e éticas. A série mostra que é tão viciante este mundo paralelo, que podemos viver continuamente nessa realidade. E talvez num futuro, quem sabe, possamos VIVER na realidade que mais nos satisfaz. 

Porque motivo dispararam notícias sobre metaverse? 

Porque o dono do maior país do mundo, Mark Zuckerberg, fez soar os alarmes! Lembram-se do artigo: “Quero o meu algoritmo de volta”! Pois bem, para além de se assumir “meta”, ele também quer criar uma criptomoeda. E acham mesmo que Zuck não consegue mudar a nossa forma de interagir e de consumir??? Não se esqueçam NÓS E O NOSSO TEMPO É que somos O PRODUTO.

Tudo isto torna-se ainda mais real, se olharmos para os avanços da neurociência, que, relacionados com o comportamento, vão mudar a nossa forma de estar e de consumir. É muito fácil entrarmos nestas novas realidades. É certo que como humano vamos necessitar de continuar a comer, tomar banho, vestir, mas nesta nova realidade não vamos andar fisicamente, vamos andar “mentalmente”. Talvez através de um neuralink, como anunciou Elon Musk, incorporando um neurotransmissor, que ativa cheiros ou sensações que já temos na nossa memória.

Há quem não acredite neste potencial de novo mundo, mas na conferência Circular Fashion Summit 2021 uma das convidadas é a Virtual Influencer Ruby 9100M. Ela não existe no mundo real, mas este evento com Humanos, prova o potencial de conexão. 

Esta realidade leva-nos para outra discussão. Uma nova dimensão de consumo.

“O consumo é uma atividade económica que consiste na utilização ou aquisição de bens ou serviços. Este ato pode ser efetuado por pessoas, empresas ou outros agentes económicos permitindo satisfazer as necessidades dos seus consumidores”.

Eh Voilá! O metaverso pode vir mitigar o consumo desenfreado (real), podendo na mesma trazer a sensação da aquisição, mesmo que esta só exista na dimensão digital. Com uma cultura crescente de “Seres Virtuais”, diz-se que este mercado pode ser mais sustentável e inclusivo. Talvez ajude a tornar o mundo mais sustentável nessa sua versão imaterial, mas tudo isto tem uma pegada inexorável.

Porque (me) interessa tudo isto? porque estes ativos digitais - incluindo itens de jogos, produtos moda, avatares e NFTs irão impactar as marcas e por consequência a indústria de moda.

QUEM MANDA é o consumidor, por isso, a indústria deve olhar com urgência toda esta realidade, e identificar estas mudanças tecnológicas e os novos comportamentos sociais, pois eles irão criar novas perceções e comportamentos associados aos ativos digitais.

Como é que a industria está a transitar para o digital? Bem, isso daria todo um novo artigo. :P

p.s vejam este filme Ready Player One .

Bom Ano! 

Joana

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