A Indústria Portuguesa é Sustentável?
Recentemente participei no Be@T - o maior PRR da Bio Economia da têxtil e gostaria de reflectir sobre a MODA atual em Portugal. Onde estão os maiores impactes? Quais as as novas matérias primas, quais os desafios da reciclagem. O que nos espera?
Como está a sustentabilidade em Portugal?
Portugal tem uma vantagem, está integrada na União Europeia e por consequência os temas da descarbonização (scope 1 e 2), água, químicos e proteção social, já estão assegurados.
Sinto uma discrepância entre os sectores do têxtil e da confecção. A Indústria têxtil tem um maior impacte no ambiente (pelos químicos e pelo consumo excessivo de água) e claramente está mais desenvolvida tecnologicamente e é mais inovadora em comparação com a confecção. A confecção por sua vez, tem uma mão de obra intensiva e depende apenas da energia. Atualmente esta indústria beneficia das energias renováveis, que atualmente atingiram os 61% (ver notícia aqui).
Quais os desafios do Futuro?
António Braz Costa começou o discurso a falar da importância das matérias primas. O grande desafio prende-se precisamente com a descarbonização (scope 3), cuja dependência se prende acima de tudo com a aquisição de matérias primas - o grande desafio de Portugal no futuro. Portugal adquire cerca de 80% das matérias primas e isso tem um grande impacte em outros países. Precisamos de trabalhar arduamente no desenvolvimento de matérias primas locais, de baixo carbono.
O outro desafio é a reciclagem. O resíduo tem de ser visto como um recurso, e para isso teremos de evoluir tecnologicamente. Atualmente a reciclagem predominante na Europa e no Mundo é a reciclagem mecânica. No entanto, restrições impostas pela UE como: proibição de queimar roupa nova, proibição de exportar resíduo e a obrigatoriedade de recolher seletivamente vestuário pós consumo, irá obrigar a reciclarmos em grande escala e para isso é necessário a reciclagem química.
No Be@t vi a remoção de estampados para facilitar o re-design de peças ou a reciclagem. E gostaria de relembrar o projeto Vividye, porque os tingimentos têm imenso impacto na reciclagem e até no re-design de peças.
Quais as inovações mais promissoras?
Como a grande pegada está na aquisição de matérias primas, diria que as grandes inovações irão acontecer no desenvolvimento de matéria primas “Made In Portugal”. No Be@t vi “provas conceito” das fibras vindas do resíduo de banana (da Madeira) e do resíduo do ananás (dos Açores). Por outro lado, as matérias primas artificiais deveriam crescer, por isso também vejo com grande expectativa o crescimento da celulose, vinda de florestas sustentáveis (temos a praga do Eucalipto) . Relativamente ao desenvolvimento de matéria prima reciclada, a grande inovação irá acontecer no processo da triagem, que ainda tem uma grande dependência humana, com um grande custo.
Quais os desafios da reciclagem?
Hoje a reciclagem usa essencialmente resíduo pós-industrial (resíduos gerados durante a fabricação de produtos moda, ex: Aparas da mesa de corte), assente na reciclagem mecânica, especialmente para as fases iniciais da cadeia de processamento, quando os materiais são conhecidos, limpos, mais facilmente separáveis e ainda dentro da fábrica (fiação ou tecelagem).
A reciclagem têxtil em Portugal e na Europa foca-se essencialmente na reciclagem mecânica. A reciclagem mecânica utiliza forças físicas, como corte e moagem, para converter têxteis em fibras utilizáveis. É um método de reciclagem comercialmente comprovado, de baixo consumo de energia e económico. O princípio é tudo “o que entra, sai”, o que significa que a composição da fibra dos resíduos têxteis se tornará a composição da fibra reciclada.
O Têxtil é muito complexo. Os fluxos de resíduos têxteis pós-consumo são muito mais lentos do que as pessoas acreditam e o desafio será separá-los eficazmente através de uma logística altamente eficiente, levá-los para unidades de reciclagem centralizadas.
Para além disso, precisaremos de instalações de triagem e reciclagem química que possam operar economicamente em menor escala para reduzir os custos de investimento inicial e a necessidade de logística de longo alcance.
Qual a maior tendência?
A maior tendência virá da legislação da União Europeia. Não haverá empresas sem dominarem de forma profunda matérias-primas, reciclagem e regeneração. O desafio é escalar muitas das inovações atuais, porque o maior obstáculo continuará a ser o preço.
Boas Férias,
Joana