O Tempo e a Consciência Humana
Neste espaço costumo escrever para empresários, mas hoje sinto que estou a escrever para os pais desta comunidade. Escutei dois podcasts esta semana que me marcaram muito.
Um dele foi com a pedopsiquiatra Ana Vasconcelos que falou sobre a curiosidade e a consciência humana e depois Steven Braekeveldt que falou sobre a importância do planeamento do tempo.
Se por um lado a Dra. Ana Vasconcelos explica que para educar uma criança é preciso tempo, referindo o livro de Edgar Moran (A Via) “A consciência humana exige tempo para pensar. O grande problema é que a nossa vida atual, exige uma rapidez que corta a capacidade reflexiva.” Já Steven Braekeveldt no podcast 45º fala do tempo e da roda do rato.
Achei curioso, porque estes dois podcasts não têm relação direta, mas tocam indiretamente em dois temas que já abordei por aqui e que me preocupam: a desinformação e as alterações climáticas. Como vamos combater estes dois problemas se não damos tempo ao tempo?
Sugiro lerem o artigo anterior: TRUMP e as BIG-TECH onde abordo o livro “Capitalismo da Vigilância”.
“os verdadeiros problemas da nossa época não podem ser compreendidos, muito menos resolvidos”… porque as Big-Tech ganham dinheiro com o nosso tempo controlando a maioria dos espaços, sistemas e processos de informação e comunicação digitais, mesmo que sejam mentira.
José Maria Pimentel no Podcast perguntou a Steven Braekeveldt: — “Porque motivo as empresas não levam a sério a sustentabilidade?”
O ex CEO da AGEAS refere que “a sustentabilidade ainda é um luxo, não é uma urgência”, caso contrário os gestores estariam a colocar 20% a 30% dos seus lucros de lado para a sustentabilidade do negócio. Refere também, que a falta planeamento a longo prazo é um problema. “Um bebé nascido hoje viverá até aos 120 anos”. “A maioria dos seres humanos têm uma noção curta de tempo… A sustentabilidade atua em 100 anos.”
Com tanta informação, custa acreditar, mas Steve explica que os líderes estão focadas em dar respostas de 3 em 3 meses aos analistas e investidores. Ninguém fala sobre o plástico do mar, da acidificação dos oceanos (que ocorre quando a água do mar reage com o CO2 absorvido da atmosfera) ou a destruição do solo da qual a humanidade depende. (A produção de 1 cm de solo pode demorar até 1 000 anos). “Nenhum dos analistas te vai perguntar sobre o solo, ou o que estás a fazer com os microplásticos?”.
Conclui que é preciso coragem, para sair da roda do rato. Quando referiu isto, lembrei-me logo de uma ilustração que vi recentemente.
“O CEO para mim é o maestro e quem toca são as pessoas da orquestra… Sempre gostei de escutar vários ideias e a síntese de todas será sempre melhor do que uma ideia individual, sustentado por mais do que uma pessoa”.
Coincide com o que a Dra. Ana Vasconcelos referiu: “A complexidade do mundo exige humildade e trans-desciplinariedade empática. É preciso a capacidade de escutar. Consciência é inteligência, mas também é humildade e amor.”
Steven Braekeveldt refere que a próxima luta é a passagem de produção para o resultado. A maioria das empresas ainda está focada na produção, no crescimento dos ganhos e no crescimento do lucro, voltando à ideia do rato na roda. A economia na ideia antiga é sobre ter acesso a bens!
Já referi a urgência de uma nova economia, tal como refere Kate Raworth no livro Economia Donut, onde principal objetivo deste novo modelo é reformular os problemas económicos e definir novas metas. Nesse modelo DONUT, a economia é considerada próspera quando todas as bases sociais de todos são satisfeitas sem esgotar os recursos do planeta.
Hoje as pessoas questionam-se: Trabalhamos porquê? Qual é o nosso propósito? Queremos trabalhar 8 horas? É para ter dinheiro ou é para ter bem estar?
Encontrar um equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é essencial, bem como educar os nossos filhos para e com a natureza. A natureza traz tempo e tem todas as respostas. Talvez por isso partilho uma recomendação, o livro: A Árvore Generosa de Shel Silverstein.
Este livro é o mais conhecido do escritor e ilustrador norte-americano Shel Silverstein. O clássico, escrito em 1964, comoveu gerações com a história de uma árvore e um menino. Com poucas palavras, Silverstein fala da relação entre o homem e a natureza, onde uma árvore oferece tudo a um menino, que a deixa de lado ao crescer, ao mesmo tempo que se torna num homem egoísta. O livro aborda questões fundamentais como o TEMPO.
Os desafios para o futuro são tão grandes que é preciso coragem, curiosidade e muita criatividade para olhar de forma diferente. Não queiram ser mais rápidos que o tempo.
Enquanto escrevia recebi a newsletter yellow pad com esta frase: “Para pensar em soluções alternativas. Sem espaço mental é difícil ter ideias novas. As ideias criativas vêm do ócio e da divagação.”
Bons negócios
Joana