O que é o Eco-Valor?

A Due Diligence de Sustentabilidade Empresarial, a Responsabilidade Alargada do Produtor, o Ecodesign, foram alguns dos temas abordados por mim ao longo de 2023.

A União Europeia está actualmente a discutir 16 propostas legislativas + 10 para a indústria têxtil no âmbito do Green Deal. Em suma, a indústria da moda irá tornará-se tão ou mais regulamentada que o sector alimentar ou o sector da saúde.

A verdade é que o vestuário é uma das inovações mais importantes do mundo. É ele que protege a pele da chuva, do sol, do frio e do calor. Não me choca esta nova regulamentação, pensado bem, até parece que vem tarde. Mas o que traz ela consigo? A inevitável subida de preços. O artigo de hoje é “O que é um eco-valor? Para que irá servir? Como irá impactar o produto?


Se tivesse que resumir o meu 2023 numa só palavra diria — RESÍDUO!

Nos últimos meses estive a construir “O Ecossistema da Moda Circular em Portugal” e os desafios são enormes. Há muitas limitações técnicas na reciclagem, limitações na fiação e há muitos custos operacionais no processo da triagem. A definição de um eco-valor justo e visível ao consumir poderá mudar as regras do jogo.

O que é um eco-valor?

O princípio da Responsabilidade Alargada do Produtor exige que a entidade que coloca o produto no mercado (marca, distribuidor,…) faça uma correta gestão e prevenção de resíduos têxteis, bem como se responsabilize pelo fim da vida útil dos produtos. Quem coloca o produto de vestuário, têxtil lar e calçado, será obrigado a contribuir com um eco-valor.

Como é que o eco-valor irá impactar as marcas nacionais?

A Europa pretende uniformizar, mas os países vão a ritmos diferentes. O caso mais estável e com 10 anos de existência é o RE-Fashion (RAP francês).

Quando uma marca nacional (ou a entidade que coloca o produto no mercado) pretende vender produtos no mercado francês, é obrigada a pagar um ECO-VALOR à Re-Fashion por cada produto colocado no mercado.

O que considera o Eco-Valor do RE-FASHION?

O Re-Fashion tem nos seus parâmetros de avaliação a ECO-MODELAÇÃO, que considera:

  • A Durabilidade do produto;

  • As Certificações (produto, processo, sociais);

  • A Incorporação de matéria prima reciclada.

Poderás aprofundar no artigo dedicado ao “RAP”.

O eco-valor contribui de que forma?

Tal como acontece com as embalagens, por cada produto adquirido uma % vai para o sistema circular. No caso do Re-FASHION, a distruição é feita pelos players do sistema moda circular.

  • Gestores de resíduos, triagem,

  • Eco-modelação,

  • Fundo de reparação (Artigo: ”França paga 25€ para reparar”),

  • Fundo de re-utilização,

  • Autoridades locais,

  • Comunicação,

  • Investigação,

  • Eco-organizações e stakeholders de suporte.

O passaporte digital poderá trazer maior transparência e por consequência trazer no acto da compra uma compra mais justa. E por isso também está a ser discutido a visibilidade deste valor ou não. Por outro lado a presença do eco-valor na fatura, poderia permitir entendermos melhor onde cada cêntimo é investido para esta transformação.

Uma mudança de MIND-SET!

A nova legislação deve ser vista como uma oportunidade. Cada valor imputado à peça, poderá melhorar a monitorização do produto e de toda a cadeia de valor. Logo, mais segurança estaremos a entregar ao consumidor final, que sabe que a sua peça terá um destino seguro!

Como consumidora, acredito que o futuro do consumo irá basear-se não apenas na criatividade, mas também na segurança da entrega! Com o passaporte digital as cadeias de fornecimento irão tornar-se mais transparentes e inevitavelmente mais estáveis. Mas a Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP) é a diretiva que apresenta maiores desafios, porque obriga-nos a mudar o modelo de negócio moda.

Será que as fábricas nacionais irão perder negócios por cêntimos, como acontece hoje em dia?

Vejamos, se tudo for cumprido, os fornecedores que foram totalmente certificados, tiverem um grande controlo, dados e relatórios bem integrados serão certamente entidades mais credíveis para investir, porque irão entregar menor risco.

Sou muito positiva quanto ao futuro, mas acredito que só a transparência irá permitir trazer a mudança necessária para as marcas e para o consumidor.

Bom Ano!

Joana

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