O Fim dos Tabus!
— “Que nojo!” diz o Duarte, depois de o namorado de Arabella lhe tirar o tampão e tocar no seu sangue na série “I may destroy you”.
Porque motivo continuamos a estranhar cenas deste género? ou a vela “The Smells like my Vagina” de Gwyneth Paltrow? Com tantas manifestações sobre sexo, menstruação, vaginas e autoprazer, estaremos perante o fim dos tabus?
A reação do Duarte não me espanta. Durante anos fomos privados de falar sobre temas comuns a qualquer mortal, ao ponto de criarmos um certo distanciamento e até “nojo social”.
Quando uma aluna me falou da sua dificuldade em comunicar os seus produtos menstruais, percebi que este bloqueio vem da nossa educação. A série da RTP1 “o meu sangue” espelha bem o medo criado pela educação que recebemos. “O sangue menstrual é o único sangue que não reflecte doenças ou violência”. Ora a menstruação deveria ser celebrada e não escondida ou temida. Talvez por isso a Pantone tenha criado a cor Period Pantone. Por outro lado, na visão da Gwyneth, a sua vagina cheira a rosas e aos olhos daquela criança a menstruação é uma “linda aguarela”.
Claramente o humor tem sido uma ferramenta fundamental para este desbloqueio e prova disso é a instalação da Miranda Minkoff na Art Basel, em parceria com a Desigual, provocando os convidados com a pergunta: “Como te sentes dentro da minha vagina?”
Em Portugal destaco os “Marshmallows” (aka tampões de cerâmica) e a peça like a virgin da ana + betânia ou o tapete RUG by GUR Silvia Matias.
Irrita-me a ideia de romantizar e até afastar temas fundamentais ao nosso bem-estar. Porque motivo a EVAX insiste que o sangue é transparente e azul?
A marca de cuecas menstruais Thinx conseguiu encontrar uma linha de comunicação simples e bonita, sem romantizar. Recentemente lançaram o livro The vagina book um manual para aprendermos a tomar conta de nós. O mesmo efeito foi criado no Vagina Museum, em Londres, desbloqueando mitos e promovendo o auto-cuidado.
A pandemia trouxe-nos privação, mas também trouxe o direito ao auto-prazer. “Engatar” passou a ser uma tarefa árdua para os solteiros que procuram prazer. Será que auto-prazer é também auto-cuidado? Se não cuidarmos de nós, quem cuidará?
Desmistificar estes temas é fundamental para obtermos uma sociedade mais aberta e até mais curiosa. A curiosidade permitirá novas abordagens a temas (tão) complexos como estes. Quando se fala em prazer, parece que estamos num confessionário, talvez por isso a A Beatriz Gosta faça tanto sucesso. Mais uma vez, ela usa o humor para quebrar o gelo. Em pleno século XXI, é um pouco careta esta “muleta” não?
Porque motivo falar sobre prazer é “pecado”? Talvez porque o prazer nos faz perder o controlo e, como seres racionais, tudo que está fora do nosso controlo, tem de ser falado com mais cuidado?! pufff!
O sexo e o prazer são temas antigos e muito explorados pelos artistas há várias décadas, mas choca-me que um rabo ou uma vagina ainda provoquem risos num museu. Quando o candelabro de tampões da Joana Vasconcelos é exibido num museu, estaremos a “agigantar” um tema que nos é próximo, tornando-o inacessível? Faz sentido romantizar e enaltecer estes temas comuns? Até a ideia de exibir num museu está errada!
Adoro a comunicação da Reformation, por trazer temas comuns da sociedade, sem um pingo de vergonha. Desmistificando o prazer de sermos solteiras, o direito de nos sentirmos sexy, o direito a gostarmos de nós. A série I May Destroy You está a ser um sucesso por isso mesmo. Toda a linha de pensamento da Arabella na série pode inicialmente parecer estranha, mas a verdade é que ela fala daquilo que ninguém tem coragem de verbalizar. E a isso chama-se liberdade. Convido-vos a visitar a marca de biquinis MIST, a marca de cuecas Flow e a página da Carmo Gê Pereira. Já conhecem?
No meu entendimento estes temas devem sair do museu e da esfera do humor! Devem entrar no nosso dia a dia com toda a naturalidade que lhes pertence.
Joana