A Nova Moda.

Vivemos numa Era de passagem. Há marcas que estão no Mundo Antigo e há marcas que já transitaram para o Novo Mundo. Ao contrário do que muitos pensam, o Futuro não é amanhã, o futuro é hoje. Por isso, quero-vos falar sobre o Futuro da Moda.

Tudo começa com um porquê?

Há uns meses quando reunia com o Walter, ele perguntou-me: “Why Porto?”. Foram 4 horas de reunião que pareceram uma verdadeira entrevista de emprego. O Walter queria saber porque construí o Porto Fashion Makers e como é que esta comunidade me fez criar o Fashion Makers Studio. Expliquei-lhe que a cidade do Porto é para mim, uma representação simbólica de um território maior. Num raio de 30 / 50 km conseguimos ir a São João da Madeira e conhecer a indústria do calçado, conseguimos ir a Guimarães e conhecer a indústria Textil, conseguimos ir a Gondomar e conhecer a Indústria da Ourivesaria.

Nunca quis criar uma marca de moda, o meu desejo sempre foi entender o que está por detrás de uma marca de moda.

Quando criei o Porto Fashion Makers, o objetivo foi colocar o Porto (Moda) no Mundo. O objetivo era mapear os Makers que estavam a criar a cadeia de valor moda, por isso começamos a identificar designers, fotógrafos, stylists, maquilhadores, agências,…. todos aqueles que acrescentavam (e acrescentam) valor à Cidade. Ao longo dos últimos anos, percebi que o Porto nunca seria uma Cidade Moda. O Porto seria a melhor combinação entre a Moda e a Tecnologia, não preciso de explicar muito, vejam o caso da Farfetch!

Quando contei ao Walter que o Porto tem características únicas e empresas com mais de 100 anos que se estão a reinventar ele disse: “I love it! Vintage Meet Modern.” et voilá fez-se luz na sua perceção.

Demorei 4 horas a explicar-lhe que Porto é este. A construção de uma marca exige colecionar memórias, e o Porto Fashion Makers é a construção de uma identidade coletiva. Não depende de mim, não depende de ti, depende de todos nós. Foi aí que lhe expliquei que o Fashion Makers Studio, era uma extensão para a construção dessa identidade coletiva. Quanto mais fortes forem as marcas nacionais, mais forte será a marca Porto Moda. No entanto, entendo hoje, que por muita vontade que tenha, as marcas não dependem de mim, dependem das suas convicções pessoais, às quais poderei dar “cor, imagem, sensações”, mas que depende inteiramente da sua visão individual.

Tenho andado obcecada com o tema das “Novas profissões”. Talvez por ter uma empresa e por saber que se não estiver preparada para o que aí vem, eu própria vou perder o meu emprego. Por outro lado, como diz o Rogério Nuno Costa, “Não procures, a coisa vem ter contigo.” Antes das férias reuni com várias empresas que o confirmaram.

Quando perguntei a um líder têxtil qual era a sua visão sobre o futuro, ele respondeu: “Para mim o futuro é a qualificação da mente. É educar, é ter gente com capacidade mental, ter inteligência, ter criativos, ter pessoas para a máquina.” Durante 8 horas, falamos sobre agilidade, sobre ecossistemas, sobre co-criação, sobre trabalharmos juntos para um bem comum. Um aspecto curioso, é que esta empresa tem mais de 50 anos e mais de 1000 pessoas direta e indiretamente “dependentes”.

Por essa altura, a Tânia ligou-me a falar sobre o futuro dos freelancers e sobre a necessidade de os “empoderar” com marcas pessoais e depois fui reunir com uma grande empresa e ela falou-me sobre a necessidade de os empresários necessitarem de novas “skills.”

Umas semanas antes reuni com duas organizações internacionais que se estão a implementar no Porto (não é em Portugal, é no Porto). Uma que quer valorizar o handmade na Nova Moda e outra que quer valorizar a tecnologia na Nova Moda. Em poucos meses, tudo mudou.

O que se está a passar aqui?

Fui mais longe e durante as férias, percebi que para vos / nos ajudarmos, teria de ir mais a fundo no discurso. Não chega falar em EU, temos de falar em NÓS, não chega pensar na minha EMPRESA, temos de falar das NOSSAS empresas. Não chega escrever aqui, temos de criar uma narrativa conjunta. Não chega fazer consultoria, temos de mudar coletivamente. Com o Porto Fashion Makers, veio o Mapa da cidade do Porto, com o mapa veio o Meet The Maker, mas não chega! Por isso, com tudo isto, veio uma noção de como o Porto É e de como ele se ESTÁ a construir. Para criar memórias temos de nos (re)conhecer como marca e nos (re)inventar.

Sinto-me cansada de reunir com marcas que ainda estão no Velho Mundo e que falam do Novo Mundo pela rama, porque não sabem, não aprofundam. Efetivamente é um processo e leva tempo. Não vale apena criticar, temos de fazer alguma coisa. O que sinto, é que as marcas não estão verdadeiramente comprometidas com a mudança. Consciência é a palavra de ordem. Não quero falar sobre roupa, quero falar sobre o que é que a moda está a fazer por nós. Por isso, não posso continuar a falar sobre sustentabilidade, porque no futuro todas as marcas inevitavelmente terão de ser sustentáveis (não há outra alternativa).

Proponho-me assim, nos próximos meses falar sobre as mudanças que nos esperam, ao nível político, social, do ponto de vista do design, de emprego, da ciência, da sociedade, da saúde, da alimentação, da nova Ética. No entanto, não chega escrever, tenho de ir mais a fundo. Temos de construir o futuro, do Porto para o Mundo. Neste sentido, construí um Laboratório “Imersão à Nova Moda” , para em conjunto encontrarmos alternativas e prepararmos o que vamos ser. Até Eu, como marca, como empresa, como pessoa tenho de me preparar para ser outra coisa. Porque o que sou hoje, não chega. Não será o suficiente para viver.

Porque o Futuro é Agora.

Joana

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