UTILIZADOR é o novo consumidor

Esta semana entreguei uma estratégia baseada na “economia da partilha” a uma cliente, a qual me diz: “Estará o mercado pronto para isto?”. Comecei a rir por dentro. Sinto que o seu ceticismo é comum a vários empresários e porquê? porque não aprendemos a consumir assim.

Vamos falar sobre a ECONOMIA DA PARTILHA?

Este tema não é novo aqui, mas como tenho dados novos sobre o resíduo têxtil invisível aos olhos de todos, achei por bem partilhar com vocês a minha perspetiva.

No capitalismo moderno, a economia da partilha é um sistema socio-económico construído com base na ideia de compartilhar recursos. Este modelo quebra com a forma como compramos e vendemos produtos. Inclui a criação, produção, distribuição, comércio e consumo partilhados de bens e serviços por diferentes pessoas e organizações. Este conceito é NOVO? NÃO!

Já todos usamos o UBER e o airbnb, certo? Pois bem, e se a MODA passasse a adoptar este novo modelo de negócio de forma definitiva? Let’s Go!

Contexto:

A semana passada tive uma reunião espetacular com o fundador de uma marca de vestuário que me disse: “Não concordo nada contigo! Ninguém vai querer uma peça de roupa para usar durante 10 anos. As pessoas vão continuar a desejar estar na moda…. a sustentabilidade não está na longevidade, mas sim na reutilização”.

PUFFFF! Aquela frase foi impactante. Ele tem razão. Eu própria, mesmo com o conhecimento que tenho continuo a desejar novidade. Então qual é a solução? Mudar o mindset.

Temos de pensar que num futuro próximo deixaremos de ser apenas CONSUMIDORES e passaremos a ser também UTILIZADORES. Explico porque motivo temos de parar de comprar coisas novas! Segundo o DN, os Portugueses deitam fora 200 mil toneladas de roupa por ano. Entre 2011 e 2017, foram deitados ao lixo 1,2 milhões de toneladas de têxteis.

O que acontece é que qualquer tipo de estratégia, não questiona o sistema linear. E aí está o problema. Continuamos a produzir para um fim. :(

O que proponho é pensarmos de forma diferente! Como vimos acima, comprar produtos NOVOS traz graves problemas de resíduo textil. Talvez por isso, estejamos a ver uma explosão do consumo em segunda mão.

No entanto, agora que sou mãe, percebo que já não chega o segunda mão. É preciso aumentar a oferta de produto por acesso limitado - a chamada subscrição.

“Princesa Troca Trapos”

Gostaria de partilhar a minha experiência pessoal. Ainda na faculdade lancei o projeto “Princesas troca trapos”, o nome é bem infantil, eu sei. Mas a verdade é que a ideia era super bem intencionada. Sabia lá eu, que isto chama-se economia da partilha :)

Basicamente era um blog, onde colocava os meus vestidos, de designers de autor ou de marcas especiais, com o objetivo de trocar com as minhas amigas. Eu cedia um produto em troca de outro. E porque motivo me lembrei disto? porque eu tinha acesso a muitas peças especiais e sentia que não fazia sentido, ficarem no meu armário anos e anos. Uma vez que tinham sido comprados apenas para um casamento ou uma festa especial.

A verdade, é que foi o mote para o famoso Rent the Runway com o serviço de subscrição. Aqui podemos ter “acesso” a um produto por um período de tempo, sem nunca correr o “risco” de repetir um “modelito”, poupando tempo e dinheiro.

Mudei a minha forma de consumir!

Com o nascimento do meu bebé tenho optado por comprar produtos de ótima qualidade, de marcas Made in Portugal ou com garantias de responsabilidade. Após o uso, vendo no VINTED. Lembram-se deste artigo / guia prático: “10 dicas de como vender em 2ª mão”?

Se tivesse de priorizar a minha forma de consumir, seria:

  • 1º compro novo

  • 2º opto pela segunda mão

  • 3º faço subscrição (futuro)

  • 4º compra digital (caso o metaverso cresça)

Hoje em dia, até a forma como pesquiso as marcas já é condicionada. Para além do design / preço / qualidade, considero:

  • Aceita devolução pós consumo?

  • Em fim de vida, tem sistema Take Back, descartando de forma responsável?

Foi neste contexto que conheci a loja de brinquedos “Casa Capaz”. Para além de me permitir comprar por IDADE, permite-me devolver o produto após o consumo. Esse produtos devolvidos, entram na categoria “Oportunidades”. Achei excepcional este sistema, porque efetivamente sei que irei conseguir reaver algum investimento de brinquedos que têm um TEMPO de utilização.

Sugeri à Casa Capaz, um sistema de SUBSCRIÇÃO, porque, como mãe, sei que em vez de comprar e vender, poderia simplesmente subscrever uma BOX de x em x tempo. Pouparia dinheiro e certamente daria mais uso a um maior volume de produtos.

Esta reflexão leva-me para outro tipo de consumo - o consumo de vestuário. Este ano comprei um casaco de inverno para o meu bebé. Custou certa de 70€. Ele usou esse casaco durante 3 meses no máximo. Se dividir 70€ por 3 meses, o investimento foi de 23€ por mês. O casaco está novo, próximo ano já não irá servir. Qual o sentido desta compra?

Se vender no VINTED, terei de o vender por metado do preço - ou seja 35€. E hoje, já existem soluções, que me permitem alugar esse mesmo casaco por 5 euros mensais, como é o caso da Rent Arket. Ou seja 5€ x 3 meses = 15€.

Neste novo modelo, para além de poupar dinheiro como utilizadora, estou a ser mais amiga para o ambiente. Idealmente deveria ter este tipo de serviço por localização (Portugal, Porto, Concelho).

Para a marca, a rentabilidade não vem pela aquisição do produto, mas sim pela reutilização constante. Deixamos de ser consumidores e passamos a ser utilizadores. Pagamos o acesso, tal como fazemos na UBER ou num airbnb. Ou seja, esta nova forma de pensar, irá obrigar as marcas a olharem para o produto de forma diferente, cuidando e perpetuando-o no tempo.

Próxima estação estou a ponderar optar por adquirir um serviço de subscrição, para produtos que sei terem pouco tempo de uso e que rapidamente ficam obsoletos.

E por aí? Makers, estão prontos para serem utilizadores?

Joana

Anterior
Anterior

Podcasts de 2021

Próximo
Próximo

Reciclado é Reciclável?