RAP Responsabilidade Alargada do Produtor Têxtil

No âmbito da estratégia europeia para a circularidade dos têxteis, em 2018 saiu o Artigo 12.º referente à Responsabilidade Alargada do Produtor (RAP). Esta iniciativa surge enquadrada no Pacto Ecológico Europeu, concretamente na Estratégia da UE de Sustentabilidade e Circularidade dos Têxteis com o objetivo de melhorar o impacto ambiental do ecossistema dos têxteis, onde se prevê a criação de um sistema de Responsabilidade Alargada do Produtore (RAP) de forma a promover a recolha seletiva dos têxteis e a sua reutilização e reciclagem, o que vai permitir combater a moda rápida e a formação de resíduos.

Até 2025 todos os Estados-Membros da União Europeia deverão cumprir com um novo requisito de criação de sistemas de recolha seletiva de têxteis. Até à data, França foi o único país da UE que ativou o regime de RAP para os têxteis.

Será que podemos aprender com os Franceses?


No final de Dezembro de 2022 moderei um evento da ModaPortugal no âmbito do European Week for Waste Reduction onde tivemos 4 convidados: Nuno Lacasta da APA AGÊNCIA PORTUGUESA DO AMBIENTE, Filipe Carneiro da LIPOR,  Ana Tavares do CITEVE e Clara Sousa Louro da ZEITREEL.

Nuno Lacasta indicou que Portugal ainda irá lançar um concurso público para identificar a entidade que irá ficar responsável por este assunto, foi nesse contexto que Ana Tavares indicou que as empresas andarão a um ritmo mais acelerado do que o organismo público, uma vez que projectam as suas coleções com 2 anos de antecedência.

Clara Louro, que lidera o departamento de Sustentabilidade e Responsabilidade Corporativa da Zeitreel Sonae, falou-nos um pouco do como a Salsa já está a implementar a valorização de resíduo. A marca já incorpora um sistema de Take Back em loja, sendo a curadoria feita à mão pelos funcionários. Não existem contentores em loja. O objetivo é prolongar o tempo de vida útil dos produtos e a adesão à reparação está a ser um sucesso. “O cliente quando gosta de um produto, não se importa de pagar pelo arranjo”

A Salsa também falou da sua experiência em França, na adesão à RAP — “Em França não importa que medidas as marcas já estão a tomar. A legislação apenas nos obriga a pagar uma taxa pelo número de produtos que entra no país”.

Como se aplica a Lei RAP na prática?

É o pagamento de uma taxa por produto.

A OCDE define RAP como uma medida política para promover a melhoria do desempenho ambiental do ciclo de vida total dos produtos, com especial incidência na retoma, recuperação e deposição final do produto.

Esta responsabilidade traduz-se no pagamento de uma taxa financeira (eco-valor) que é integrada no preço do produto.

Como se comunica ao consumidor final?

O Consumidor final já consegue visualizar nas etiquetas do produto, uma nova iconografia que representa a valorização dos têxteis.

Onde deixar o resíduo têxtil?

Existem cerca de 45.000 pontos de coleta na França. O Ministério da transição ecologica e coesao territorial frances disponibilizou a plataforma refashion.fr para auxiliar o consumidor final. Aqui o consumidor já pode introduzir o seu Código Postal e descobrir o contentor de resíduo têxtil mais perto de si.

O que posso colocar no contentor?

Ao depositar os têxteis e calçado que pretende descartar num contentor de rua, ou numa balcão de associação ou ainda numa recolha pontual (Sistema Take Back), o consumidor escolhe dar uma segunda vida às peças.

Aceitam-se:

  • Roupas grandes (Calças, camisas, tshirts…)

  • Roupas pequenas (Meias, cuecas, luvas, lenços…)

  • Sapatos (desportivos, sandálias, chinelos, botas, etc…)

  • Lençóis (Toalhas de mesa e de banho, toalhas de mesa em tecido, panos de rosto)

Como fazer uma triagem correta?

Pode deixar ou doar todos os têxteis e sapatos, mesmo gastos ou rasgados ou apenas desatualizados ou com furos, para serem reutilizados ou reciclados, desde que sejam entregues LIMPOS e SECOS.

Regras:

  • Os sapatos devem ser entregues aos pares.

  • Deve ser entregue num saco fechado.

É proibído:

Itens húmidos, correm o risco de contaminar todos os outros elementos e gerarem mofo, impossibilitando a sua recuperação. Os Têxteis e sapatos que tenham sido usados para bricolagem, pintados com tinta ou húmidos devem ser colocados em um recipiente de lixo não reciclável.

O que acontece quando coloco no eco-contentor?

Em França já há números. 58,6% vai para reutilização e 41% vai para reciclagem. A reciclagem para produtos de baixo valor é alto, exemplo: isolamento da construção civil ou pavimentos. No entanto precisamos de começar a trabalhar o resíduo para desenvolver produtos de alta qualidade mas para isso precisamos de comprar melhores produtos e alterar o design das peças, adoptando estratégias de Eco-Design.

Depois de entregues no contentor, são tratados por profissionais que os dividem em 3 categorias:

1 - Bom estado, ou seja, mais de 50% das doações, para reutilização e revenda em lojas solidárias e na França ou no mundo.

2 - Usado e reutilizável, ou seja, 1/3 é reciclado e dá origem a novas matérias-primas como fios para criar novas roupas ou isolamentos para o setor da construção.

3 - Não reutilizáveis e não recicláveis tornam-se um combustível alternativo utilizado em energia.

Quais os resultados do RAP em França?

Em 2021 foram recolhidos 244.448 toneladas de têxteis e calçado, evitando o aterro ou a incineração.

Espero que este exemplo inspire Portugal.

Boas Reflexões

Joana

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