Doação Insustentável

Hoje assinalou-se o dia oficial da sustentabilidade! Impactada com este dia, percebi que precisamos de olhar para este tema com outros olhos! Chega de falar em sustentabilidade! É urgente falar em regeneração. O que temos já não chega para nos sustentar! Temos de criar VIDA!

Os dados claramente mostram que estamos no caminho errado! O artigo de hoje é sobre o que descobri com a doação, com os resíduos têxteis e com os programas que tendem a falhar. Vamos a factos!

A agência do ambiente (APA) afirma que em 2021 foram produzidas em Portugal 5,311 milhões de toneladas (t) de resíduos urbanos (RU), onde 3,49 corresponde a resíduo têxtil.

  • 8% dizem respeito a têxteis sanitários (pensos higiénicos e tampões)

  • 3,49 % correspondem a 176.400 toneladas de resíduos têxteis

Como cidadão, como devemos atuar?

Depositar vestuário ou calçado no contentor de doação para o fazer circular.

Onde podemos depositar?

  • H Sarah Trading

  • Ultriplo

  • Humana

  • Wippytex

  • Caritas

  • To Be Green

A ideia de “fazermos bem” está presente no ato de doar. Em Portugal temos quase 9.000 contentores de doação, no entanto, cerca de 50% do que doamos vai para EXPORTAÇÃO. As empresas têm esta informação publica:

  • A Ultriplo exporta 70%

  • A Humana exporta 53%

  • A Caritas exporta 90%

Ou seja, os dados divulgados pela APA em 2019 e que têm sido referência estão claramente desatualizados. Infelizmente, Portugal gera mais de 200 mil toneladas de têxteis por ano, uma vez que parte do que colocamos nestes contentores vai para outros países, criando lixeiras em outros sítios - como refere esta reportagem da SIC “Roupa dos Bancos Mortos”.

França através do ReFashion, apesar de estar mais à frente nesta gestão, na verdade 52% corresponde a exportação, ao qual chamamReutilização no estrangeiro”.

A Vinted no TOP 3 da venda online

Reutilização, pressupõe re-utilização. Dar uma segunda vida às peças. A boa notícia é que a Vinted está entre as 3 entidades mais usadas para comprar online. Como vimos no artigos anterior, o crescimento da segunda mão veio para ficar, permitindo circular as nossas roupas. No entanto, após o uso em primeira e em segunda mão, e caso a peça já esteja desgastada, onde podemos descartar em segurança? Não podendo doar, iria sugerir aderir aos programas de “Take Back”! Mas…

O Take Back enganador!

No estudo “Take-back-trickery” realizado pela Changing Markets, verificou-se que inúmeras marcas estão a mentir. Colocaram um air tag em inúmeros produtos para rastrear o seu fim e ao contrário do que prometem os produtos da H&M (por exemplo) estão a ir para África criando grandes problemas.

Nesta ação, é nos atribuído um valor por “integrar estes programas”, ou seja como consumidor, ficamos com uma “falsa” sensação de segurança e ainda com bónus financeiro. É perverso.

Há capacidade para reciclar em Portugal?

Caso os programas de take back funcionassem em Portugal, estariamos prontos para valorizar as peças? Claro!

Apesar de ser numa escala pequena, em comparação com o universo de 12.000 empresas de produção de têxtil e de vestuário, em Portugal existem 5 empresas que o podem fazer reciclagem têxtil. Elas são:

  • Recutex

  • Valérius 360

  • JGomes

  • Sasia

  • Jomafil

No entanto, como ainda não existe um fluxo de resíduo de pós-industrial e pós-consumo, estas empresas ACABAM POR IMPORTAR resíduo têxtil. Importante também será salientar, que nem todo o têxtil é possível de ser valorizado, pois existem limitações técnicas e para criar produtos de valor, nem sempre temos todo o tipo de matéria prima em Portugal. No entanto chega a ser chocante saber que compramos “lixo”, sabendo que existe cá!

Espero que o próximo artigo traga melhores novidades!

Bons Negócios

Joana

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