Design Circular
Tudo começa no design. Vejo muitas marcas desenharem produtos preocupadas com a origem das matérias, mas poucas preocupadas com a ideia do fim. Para além de reduzirem a sustentabilidade à matéria prima, elas iniciam o seu pensamento na economia circular, mas terminam na economia linear, pensada para o descarte. Por isso, gostava de vos falarmos sobre como podemos efetivamente “Desenhar para a circularidade”.
O termo "design circular" é atual e talvez por isso durante muitos anos, os “designers” nunca foram questionados em relação à ideia do “fim”. A intenção do design, sempre foi desenhar para o início, para o desejo da aquisição, tal como acontece na moda, o desejo de consumo! Ao longo destes anos, “ninguém” questionou “e depois ?”, o que acontece no “fim”? E agora percebo, que a ideia do fim nunca foi um critério.
Quando penso em design, penso na Apple! Aqueles objetos bonitos, funcionais e altamente atraentes. Mas agora olhando com algum distanciamento, vejo que estes objetos são tóxicos. Para além de um impacto brutal (devido ao consumo de ouro ou índio,...) ele é pensado para ser descartado. Por isso, na economia linear, desenhamos para ter “estilo”, mas para ser descartável. Porque isso o “conceito” de lixo é um erro de design. Quem leu esse artigo?
Quando compramos um telemóvel, passado 2 anos ele está obsoleto. Queremos fazer uma atualização e já não dá. PUFFF! A isto chama-se “obsolescência programada”. Sim! Ele foi pensado exatamente para isso “deixar de funcionar”. Ele foi desenhado para estimular o consumo, estimular a economia linear.
Existe também a “obsolescência percebida”, que é quando as marcas lançam um artigo novo, e apesar de não precisarmos, ficamos com o desejo de ter sempre a versão mais recente. A Zara é optima nisto, com as suas coleções de 15 em 15 dias, temos sempre a sensação que estamos “atrasadas”. A apple também é genial nisto quando lança o iPhone. Porque basicamente o artigo é igual ao anterior, mas com um novo rosto e dá-nos a sensação que estamos ultrapassados.
O Design surgiu no auge da revolução industrial e veio estimular a ideia de desejo. No entanto, desenhar para a circularidade traz novos desafios, porque a ideia é pensarmos precisamente o contrário. E não estou a dizer que vamos desenhar coisas feias. Ok? Mas se olharmos para a origem da palavra, DESIGN significa desígnio, que está intimamente relacionado com a ideia de projetar, desenhar com intenção.
Ou seja, design tem a ver com a ideia do desenho, como um projeto de um produto, processo ou sistema. É o ato de criar algo novo. Por isso, se a intenção não for clara, o design não servirá de nada.
Já partilhei, que “fazer menos mal, não é fazer bem”, por isso, escolher algodão orgânico numa economia linear nem sempre é a decisão certa. Na economia circular temos de olhar para os objetos como nutrientes, que alimentam a cadeia de forma positiva. Ou seja, se hoje em dia o produto não proteger a saúde humana e o ambiente ele é considerado um produto obsoleto.
Isto lembra-me a Cas Holman. Ela diz que não gosta de ser chamada de “designer de brinquedos”, porque o que ela faz é provocar o estimulo para a criatividade e a brincadeira das crianças. Ela desenha com intenção e é isso que temos de fazer com a nossa marca. “Inventar” novas formas de pensar.
Agora que temos consciência das mudanças climáticas. Então as nossas intenções e o design tem de ser outro. O Design na verdade é o nosso maior instrumento! Porque o Design Circular é desenhar com intenção, onde no processo questionamos: Quais são os materiais? Quais são os Processos ? Que Tecnologias vamos usar? Como será o usado? Ele pode ser consertado?
O design tem um potencial transformador enorme, de criar uma economia verdadeiramente circular e para isso a circularidade tem de estar no centro do processo de uma empresa. Porque tal como comecei, tudo começa no design.
Joana