A Curiosidade e a Consciência Humana.
Com todas as mudanças políticas este podcast trouxe-me alento. A pedopsiquiatra Ana Vasconcelos fala sobre a curiosidade humana como algo fundamental ao desenvolvimento da criança.
Ao estudar montessori, uma das ideias que mais me marcou foi que a criança não tem maldade. Por isso, expressões como: “está a testar os nossos limites”, “está-nos a provocar” só existem na mente do adulto.
Quando o nosso filho salta para o sofá ou uma poça, ele não está a provocar, ele está a testar a sua curiosidade natural de saltar. Nós adultos é que distorcemos a realidade do que está acontecer e reagimos mal.
Para as Crianças é fundamental o movimento, as brincadeiras ao ar livre, o trepar, o andar de bicicleta, o saltar, enfim, o mover para quando chegar ao momento (perto dos 6) estar pronta para ficar quieta e sossegada na escola. O mais difícil do movimento é a criança conseguir conter os seus movimentos. Por isso desde que nasce até aos 6 anos, o seu instinto natural é movimentar-se.
Partilho uma história pessoal.
O Álvaro sempre foi um miúdo muito físico. Todas as suas brincadeiras giram em torno de correr, trepar e saltar. Quando vê uma poça de água, salta automaticamente. Para poder satisfazer a sua curiosidade sem restrições, há dias em que calçamos as galochas.
Já aconteceu ver uma poça e saltar imediatamente, sem aviso prévio. Foi instinto puro! Ficamos todos molhados e sujos de lama. A reação no segundo seguinte foi ralhar. Ele como não entendeu, começou a chorar.
Nunca nos podemos esquecer que o adulto somos nós. Respiramos fundo e passados uns minutos, explicamos porque motivo ficamos zangados e fizemos as pazes.
Hoje em dia, antes de saltar para uma poça o Álvaro pergunta: “mamã posso saltar?”.
Desde pequenino que o deixo “explorar” a sua curiosidade ensinando-lhe a fazer as coisas de forma SEGURA.
Aos 2 anos o Álvaro queria subir e descer as escadas sozinho.
Aos 3 anos quer espreitar por janelas e correr para a passadeira para carregar no botão da passagem de peão.
Todos estes gestos, criam tensão, pois como adultos conseguimos prever o risco e a criança tem um nível de imprevisibilidade grande.
Segundo a Dr. Ana Vasconcelos. “A criança não tem prazer em provocar, a criança não está é em sintonia com o que o outro está a pedir.” afirma ainda “a curiosidade não é invasão. A curiosidade precisa de empatia. É ela que nos faz ir para o mundo. É preciso mostrar recompensa emocional.”
Mesmo quando a criança derruba água por exemplo, “deve ser tratada como um convidado especial.” Quando o Álvaro deixa cair alguma coisa, costumo dizer: “Não tem mal, acontece, faz parte do teu crescimento”.
Quando sou eu que deixo cair molho da toalha, ou água da mesa, o Álvaro prontamente diz: “Não tem mal mamã, isso seca, depois pomos a lavar”. Com grande sentido de generosidade ele demonstra empatia e sabe que pode continuar a falhar porque faz parte do processo.
É importante mostrar limites, quando o risco é real, mas nunca nos esqueçamos que uma criança curiosa tem sede de saber e de aprender. É muito difícil contrariar o nosso instinto, tal como é difícil quebrar com alguns preconceitos que trazemos da infância. Sugiro lerem “O livro que gostaria que os seus pais tivessem lido.”
Ana Vasconcelos recomenda o livro “A Via” de Edgar Moran . “A complexidade do mundo exige humildade e trans-desciplinariedade empática. É preciso a capacidade de escutar. A consciência é inteligência, mas também é humildade e amor. “